domingo, 11 de dezembro de 2016

o avô Aires.


Hoje, se fosses vivo, farias 100 anos. Eu não me esqueço por norma quem me fez bem e quem me faz mal, simplesmente não esqueço.
Tu foste um exemplo de homem que eu gostava de ser, mas não consegui ser...pelo menos até hoje.
Tu casaste, tiveste dois filhos, educaste-os da melhor maneira possivel, fizeste um lar, tiveste sempre ao teu lado aquela que é ainda a minha avó, que conta coisas bonitas sobre ti.
Lembro-me das nossas caminhadas, buscar água com um cantaro de barro que tu tinhas na casa velha, era de 10 litros, e aquilo pesava...
Levaste-me á feira de Santarém de comboio pela primeira vez, tinha 7 anos e nunca tinha andado naquele meio de transporte...lembro-me quando ele arrancou e eu feliz à janela obsevava a paisagem por lugares que eu já tinha passado de carro. Tu ías sorrindo feliz também. As pessoas observavam a nossa felicidade e sorriam também.
Eu fui tirar resina contigo durante as férias do Verão, a minha mãe não queria , mas eu queria saber como era aquilo, tu não eras resineiro, mas tinhas esse hobby que tento gostavas.
Tu tantos pinhais!!! se fosses vivo ficarias desolado por não haver uma unica arvore em pé...
E lá fomos nós, com um cesto pequenino com a nossa merenda do meio dia, porque o dia ía ser longo.
Lembro de irmos às festas de Verão na aldeia do meu pai, a 5 quilometros da tua casa, íamos a pé, porque tu não tinhas carro, moto...e a tua bicicleta era para ti uma reliquia. Quis o destino que essa bicicleta que tanto gostavas e estimavas é agora minha, e continuo com a mesma estimação.
Podes não acreditar, mas eu nunca andei naquela bicicleta.
Tu gostavas de ir aquela festa só para ver uma espécie de "garraiada", um cercado onde se colocam vacas bravias para a juventude se divertir...e tu gostavas de ver as cornadas que elas davam aos mais incautos. Eu gostava de te ver a sorrir.
As minhas memórias são tantas que dava para escrever um livro.
Quando soubemos da noticia do teu falecimento, apoderou-se um vazio estranho na casa, foi estranho, por ser a primeira pessoa próxima que eu perdia. Eu não sabia, eu não sabia como era morrer, qual o significado, porquê, entre tantas perguntas...que graças a ti consegui perceber.
Lembro do gentio que estava naquela igreja, e foi aí que eu tomei consciência séria do tipo de homem que tu tinhas sido nesta passagem que é a Vida! Ficou tudo muito mais claro...
Eu não deitei uma unica lágrima, enquanto que os outros era um mar sem fim.
O ultimo abraço foi o da avó para mim porque sabia de tudo, das nossas complicidades, das nossas aventuras de menino.
O tempo foi passando, fizeste falta. Podias ter esperado mais um bocadinho...só mais um bocadinho para eu aproveitar-me de ti.
Eu gostava de ser como tu mas estou muito longe de chegar (sequer) aos teus calcanhares.
Agora quando tenho possibilidade, passo mais tempo com a avó, a ouvir os seus contos, as suas histórias sobre o "antigamente", as lengas-lengas que eu gosto tanto de ouvir...vou aproveitando, tenho algus escritos guardados religiosamente. Acho bonito como é que uma pessoa que não teve a educação que eu tive tenha tanta sabedoria!!!
Parabéns Avô!



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