quarta-feira, 25 de maio de 2016

Um café, 4 rapazes,uma padaria, 4 papo-secos e um Calipo


Quatro rapazolas tipicamente alentejanos, cor escura, queimada pelo afamado sol alentejano, de feições aciganadas e de palito nas beiças, bebiam umas cervejas por essas 10 da manhã.
O tempo nestas paragens é um conceito, não passa de um conceito, o sol marca o destino do fazer das coisas, das tarefas de casa, no trabalho do campo, até a ida para o deitar…
No café da velhinha aldeia, Fernando, um gabiruzito frustado de primeira linha, bastante chunga por sinal,olha para os outros em silêncio, dá um murro na mesa com violência, e saiu-se com esta:
- Caralho, vamos assaltar uma merda qualquer! Isto é uma pasmaceira!!!
E foi o princípio do fim, um assalto sem um plano, sem um propósito, e ainda por cima sem armas, aquilo estava mesmo destinado ao fracasso. Coisa reles.
Entraram na primeira porta que encontraram semiaberta, e logo na padaria do Domingos, um padeiro à moda antiga, nada virgo como pessoa, camisa de alças branca e peludo como um grizzly americano…lá está, também com o palito entre dentes. Um alentejano de gema !!!
Colocaram as meias de licra nas respectivas cabeças, e quando olharam uns para os outros começaram a rir que nem uns perdidos. O líder, Fernando, colocou gelo naquela cena:
- Foda-se pá! Isto vai ser um assalto caralho… não é um número de circo!
Entraram pela padaria a dentro, e vão ao encontro do Domingos, o padeiro, quarentão, bem-disposto e de bem com a vida. Lá dentro estava também a Marta, a “bicicleta” da aldeia, e Luísa, o oposto da colega…a santinha da aldeia.
- Isto é um assalto caralho! Mãos bem lá em cima!!!
Diz um comparsa naquela cena de crime violento muito forçado:
- Porque andas sempre com o caralho na boca?! Foda-se…é caralho para aqui, caralho para acolá.
- Cala-te caralho!!!  - diz Fernando.
- Tás a ver?! – responde o comparsa.
Domingos admirado com a cena olha para as duas funcionárias e diz baixinho:
- Olha quem são os melrinhos…o mundo está perdido!
Fernando inteira-se da cena sobe para uma arca frigorífica com gestos energéticos com o cajado na mão, a única arma que dispunham:
- Queremos o dinheiro padeiro! E já!!!
O padeiro vai à sacola de couro da venda do pão e retina cem euros em notas e alguns trocos, coisa pouca e pouco dignificante para um assalto.
Um deles vai à arca frigorifica e tira um gelado, um Calipo, pergunta ao padeiro:
- Só há de limão?!
O padeiro acena com a cabeça dizendo que sim, e olha-o atentamente, tentando vislumbrar quem seria a figurinha. Sorriu para ele, estava descoberto o segundo comparsa, depois o terceiro, que tinha falta de um dedo. Chamava-se Ribeirinho, e tinha perdido um indicador direito com uma enchó de cortar cortiça. Durante muito tempo foi gozado na aldeia porque já não podia tirar "macacos" do nariz.
O quarto comparsa era fácil de descobrir...a seita andava sempre em quadrilha.
- E se levássemos 4 papo-secos para comermos?! disse um deles.
- C´um caralho...oh pá leva os pães!!! diz Fernando zangado.
Quando foram apanhados (facilmente) e levados ao Juiz, este perguntou em jeito de gozo a um dos criminosos:
- Um Calipo de limão?!
- Não havia sabor a morango Sr. Dr. Juiz – respondeu o "culpado" cabisbaixo.
O Juiz olha para os dois advogados, com folhas de papel escrita nas mãos, coça a cabeça e coloca o cotovelo na mesa e mão na cara. Olha a plateia em silêncio e abana a cabeça.
Resolve e julga aquele caso de uma maneira muito simples.
Os rapazolas foram bem castigados, trabalho não lhes faltou nos meses seguintes. O velho juiz castigou-os colocando-os a limpar terrenos e baldios da junta de freguesia. 
E mais, durante alguns meses foram para a padaria trabalhar de borla para compensar o padeiro. A história foi esquecida, como tantas outras.



segunda-feira, 23 de maio de 2016

sei lá...


Sei lá o tempo que fazia, se sol, se chuva, eu lá tinha tempo para pensar nisso. Era omisso nessas coisas.
Eu só tinha olhos para os teus olhos, brilhantes, felizes, imensos nos significados...sei lá!
Um dia fomos lá, como sempre, era um ritual muito nosso, falávamos, discutíamos assuntos, sei lá...
Eu deixava-te ganhar para não ficares chateada, porque gostava do teu sorriso, do sabor da tua vitória...da tua importância.
Foste, és e serás sempre muito importante para mim, independentemente do tempo em que estamos, da distância que temos, da realidade presente que temos. E isso significa nada, agora, porque sim, sei lá...
Sei lá...aqui eu fiz-te sentir mulher, em pleno, e isso dizia-me a tua respiração, as tuas sôfregas palavras de prazer, irradiavas infinitamente a luz das estrelas.
Sei lá...Tu olhavas para mim, e eu dava-te tudo aquilo que tu me pedias, mesmo se fosse para saltar aquele penhasco, eu saltava.
Sei lá, estava mergulhado no teu feitiço de bruxa, e perdia-me nas horas só de olhar para ti...era tão bom, até tinha sabor, e eu ali, perdido...tu fazias-me perder na dinâmica daquela vida, naquele momento. Sei lá...!
Aqui, agora...sei lá, maldito-me pelos meus atos, aquilo que eu nunca mais vou ter, apenas aqui jaz uma paisagem, um lugar tão bonito, e uma dor imensa até ao dia da minha morte.
Sei lá...fazes-me falta! mas agora já não interessa.
Sei lá...aqui sou por momentos, no espaço, o homem mais feliz do mundo.

a janela e a sua importância...




Porque construí a minha "Janela" ?!

A minha janela tem várias acepções, tem várias vistas e todas diferentes...
A minha, que é só minha e a qual eu partilho (só) com quem eu quero.
A dos outros, que estão em baixo, e olham para mim, ou para a minha janela, e tem as suas impressões.
A diferença é que os outros podem partilhar a mesma "visão" sobre mim, cá de baixo, com os outros, e discuti-la entre eles. Se existir divergências, isso são valores que não são os meus, isso é rico.
Todos os dias há um novo quadro, uma nova imagem, um novo quadro, um novo dia.
Que sejam felizes as imagens e os olhares da nossa janela.
Vamos lá espreitar...a vida tal como ela é!

Bem vindos!

Porque a vida é um ritual de acontecimentos!!!
Bons ou maus, faz parte.
E cá estamos nós para os viver

Bem vindos!!!