Quatro rapazolas tipicamente alentejanos, cor escura,
queimada pelo afamado sol alentejano, de feições aciganadas e de palito nas beiças,
bebiam umas cervejas por essas 10 da manhã.
O tempo nestas
paragens é um conceito, não passa de um conceito, o sol marca o destino do fazer das coisas, das tarefas
de casa, no trabalho do campo, até a ida para o deitar…
No café da velhinha aldeia, Fernando, um gabiruzito frustado de primeira linha, bastante chunga por sinal,olha para os outros
em silêncio, dá um murro na mesa com violência, e saiu-se com esta:
- Caralho, vamos assaltar uma merda qualquer! Isto é uma
pasmaceira!!!
E foi o princípio do fim, um assalto sem um plano, sem um
propósito, e ainda por cima sem armas, aquilo estava mesmo destinado ao
fracasso. Coisa reles.
Entraram na primeira porta que encontraram semiaberta, e
logo na padaria do Domingos, um padeiro à moda antiga, nada virgo como pessoa,
camisa de alças branca e peludo como um grizzly
americano…lá está, também com o palito entre dentes. Um alentejano de gema
!!!
Colocaram as meias de licra nas respectivas cabeças, e quando olharam
uns para os outros começaram a rir que nem uns perdidos. O líder, Fernando,
colocou gelo naquela cena:
- Foda-se pá! Isto vai ser um assalto caralho… não é um número
de circo!
Entraram pela padaria a dentro, e vão ao encontro do
Domingos, o padeiro, quarentão, bem-disposto e de bem com a vida. Lá dentro
estava também a Marta, a “bicicleta” da aldeia, e Luísa, o oposto da colega…a
santinha da aldeia.
- Isto é um assalto caralho! Mãos bem lá em cima!!!
Diz um comparsa naquela cena de crime violento muito forçado:
- Porque andas sempre com o caralho na boca?! Foda-se…é caralho para aqui, caralho para acolá.
- Cala-te caralho!!!
- diz Fernando.
- Tás a ver?! – responde o comparsa.
Domingos admirado com a cena olha para as duas
funcionárias e diz baixinho:
- Olha quem são os melrinhos…o
mundo está perdido!
Fernando inteira-se da cena sobe para uma arca
frigorífica com gestos energéticos com o cajado na mão, a única arma que
dispunham:
- Queremos o dinheiro padeiro! E já!!!
O padeiro vai à sacola de couro da venda do pão e retina
cem euros em notas e alguns trocos, coisa pouca e pouco dignificante para um assalto.
Um deles vai à arca frigorifica e tira um gelado, um Calipo, pergunta ao padeiro:
- Só há de limão?!
O padeiro acena com a cabeça dizendo que sim, e olha-o
atentamente, tentando vislumbrar quem seria a figurinha. Sorriu para ele,
estava descoberto o segundo comparsa, depois o terceiro, que tinha falta de um
dedo. Chamava-se Ribeirinho, e tinha perdido um indicador direito com uma enchó
de cortar cortiça. Durante muito tempo foi gozado na aldeia porque já não podia tirar "macacos" do nariz.
O quarto comparsa era fácil de descobrir...a seita andava sempre em quadrilha.
- E se levássemos 4 papo-secos para comermos?! disse um deles.
- C´um caralho...oh pá leva os pães!!! diz Fernando zangado.
Quando foram apanhados (facilmente) e levados ao Juiz,
este perguntou em jeito de gozo a um dos criminosos:
- Um Calipo de limão?!
- Não havia sabor a morango
Sr. Dr. Juiz – respondeu o "culpado" cabisbaixo.
O Juiz olha para os dois advogados, com folhas de papel
escrita nas mãos, coça a cabeça e coloca o cotovelo na mesa e mão na cara. Olha a plateia em silêncio e abana a cabeça.
Resolve e julga aquele caso de uma maneira muito simples.
Os rapazolas foram bem castigados, trabalho não lhes
faltou nos meses seguintes. O velho juiz castigou-os colocando-os a limpar
terrenos e baldios da junta de freguesia.
E mais, durante alguns meses foram
para a padaria trabalhar de borla para compensar o padeiro. A história foi
esquecida, como tantas outras.