domingo, 4 de dezembro de 2016

ai portugal, portugal, de que é que estás à espera!?


Eu tenho imensas fotos de portugal, esse país, que não é o meu...eu não nasci em portugal, nasci em França. Portugal mete-me nojo, não o país fisico, a terra fisica, essa não tem culpa pelas minhas frustações consentidas. Espero, e penso que já não será do meu tempo, que alguém - um político desses que ainda existirão por aí tomem as medidas certas e digam : isto não tem remédio, vamos recomeçar tudo de novo.
Eu tenho pena de andar por aí de terra em terra, de projecto em projecto e ver o que de bom se faz em cada lugar. Na semana passada estive em Istambul, cidade linda, cidade dos contos, dos templos, dos "mustaphás", das comidas picantes, dos tecidos carregados de cor...do islão.
Aquilo que eu quero contar é simples, e é interessante do ponto de vista cultural.
Visitei uma fabrica de pão, uma padaria normal. Ninguém visita padarias em portugal!!! isso era uma chatice!!! a higiene, os segredos de como se enrola uma massa (??!!!) como se faz um "paposeco", ASAE e outras merdas tão típicas de um portugal que pensa que é muito moderno, mas está atrasado 50 anos em relação ao resto do mundo!!! (pelo que eu vejo!!!)
E entramos, fomos bem recebidos, o casal não sabia inglês, mas entendemos por sinais. Não existem maquinas, nem processos, nem isto nem aquilo...nem ASAE. E aquilo parecia uma revolução lá dentro, porque fazer pão para uma comunidade com mais de 300 mil habitantes é obra, e a cidade ao todo tem mais de 14 milhões de pessoas! O pão aqui é espalmado parece uma bolacha gigante, fez-me lembrar a tradicional Chapati indiana de Jaipur. Mas o sabor, esse, era identico a um pão que eu comi em Laos. Vimos todo o processo, desde a preparação de farinhas, até ao processo de cozedura num forno a lenha, alimentado a carvão. Tudo isto é interessante não pelo pão em si, mas pelo facto de um país que permite e faz vista grossa a um produto tão simples como é o pão! um alimento básico.
Percorro portugal de lés-a-lés e vejo potencialidades a serem esquecidas no tempo, e na vida das pessoas, já não há interesse em ver fazer um queijo de cabra numa casa de um pastor de uma serra qualquer. Não há interesse em saber quais os cogumelos que brotam das nossas colinas durante o Ountono, ninguém conhece caminhos por meio de vales encantados, estreitos, ou rios ou ribeiras...
Agora é mais "pokemons" um vazio cultural, um absurdo castrante, enoja-me pertencer a uma sociedade assim. Eu vou lutando como posso, vou visitando lugares, conhecendo pessoas, eles contam-me as suas histórias...e isso é bom, pelo menos para mim, faz-me bem!
Estaria aqui a contar exemplos de passeios que eu fiz por portugal, pelos lugares, pelas lembranças e promessas de voltar de novo, somos um povo isolado, castigado severamente por uma gentalha sem escrupulos e somos incapazes de mudar..."vai-se indo" até ao dia em que apenas caçar "pokemons" é um lugar de encontros. Deus me leve primeiro, porque eu não quero assistir a esse filme.

5 comentários:

  1. É verdade o que dizes, infelizmente fruto da sociedade capitalista em que nos inserimos e da qual somos incapazes de fugir, seja por hábito, por ignorância, por incompetência... Mas a verdade que pelos vistos não conheces, é que há um pequeno grupo de gente por aqui, e por todo o mundo também, que se tem levantado em prol da defesa das tradições, das origens, do autêntico e isso é simplesmente fantástico. Eu ainda me limito ao básico, mas tenho uma prima que está a fiar a lã da ovelha do vizinho que foi tosquiada na Primavera e com ela faz novelos para fazer camisolas. Este é só um exemplo, mas há muitos, muitos outros, no nosso país e pelo mundo fora. É uma comunidade pequenina, claro, mas acredito que outros se levantarão e juntos, poderão fazer a diferença. Não creio que vamos a tempo de salvar o que quer quer seja no planeta, mas acredito que muita coisa está a mudar e continuará a mudar.

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  2. Espero que alguma coisa mude, o mais rapidamente possivel. A ideia das lãs é simplesmente fantástica!!! pensava que mais ninguém fazia disso. A ultima vez que vi foi na Feira do Mel, em Outubro (ano passado), no Espinhal.

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    1. E o trabalho que se está a desenvolver com os bichos da seda? Produzir seda para tecer. E semear linho para tecer? E tingir fios com plantas? É todo um mundo novo - tão velho - para explorar e desenvolver. Conheço muitos, muitos blogs, nacionais e estrangeiros sobre vários destes assuntos, mas deixo-te aqui o link de uma portuguesa que está a fazer um trabalho fantástico no âmbito da investigação, caso te desperte interesse: http://www.saberfazer.org/research/

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    2. A curiosidade matou o gato, e lá fui eu na tua senda...
      Comecei, li, vi os "links", os "sharelinks", fotos, e quase que dei uma volta a Portugal... Eu tinha já os olhos a arder, quando reparei que eram quase 2:45 da manhã...e eu acordo às 6:30!!!
      Mas aquilo que eu vi é simplesmente fantástico, demasiado belo para não ser partilhado, muita coragem, muito rigor, dimensão humana acima da média,e muito pragmatismo em relação aquilo que existe e aquilo que podemos fazer.
      Acho que não vou ficar por aqui...

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    3. É mais "confortável" ficar a suspirar pelo mundo que idealizamos e criticar a realidade que acaba por se mostrar evidente e vigente. Mas se nos mexermos e procurarmos por esse tal mundo, acabamos por ver que ele já existe e que alguém já o começou a pôr em prática enquanto nós suspirávamos e reclamávamos. Há uma pequena facção que não se conforma e que põe mãos à obra e que rompe com o imposto e nós podemos juntar-nos a ela, de alguma maneira. E isto é só o começo.

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