segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

um homem sem nome no Campo Mártires da Pátria

Um dia fui a Lisboa, não em passeio, tive de ir, assuntos meus...infelizmente, andei nisto durante 2 anos, caminhei sozinho sem dizer nada a ninguém. Há coisas que ninguém deve saber, são assuntos que vão connosco para baixo da terra.
Ainda faltava tempo, eu geralmente gosto de ir cedo para este tipo de coisas. Mesmo assim, encontrar um lugar para estacionar o veículo alugado torna-se complicado.
Andei no Torel, e nada, junto à biblioteca da Fundação D. Pedro também nada, nem um misero lugar, não me restou outra alternativa senão pagar por dia de parque para Emel.
Parqueei o carro por baixo da rotunda do Martim Moniz.
O meu assunto era às 10 da manhã, estava abafado, como só em Lisboa...nunca percebi bem porquê.
Cada parque custa quase 8 € por dia, mas naquela situação teve mesmo que ser. Quando eu colocava uma nota de 20 € na máquina um moribundo vestido com roupas sujas e rotas aborda-me por uns "tostões" segundo o seu pedido. Como a máquina não dá notas, só moedas, aquilo mais parecia uma slot machine de um casino qualquer. Os olhos do homem eram tão escuros que metiam medo, não sei quanto lhe dei, o homem agradeceu dizendo que era para comprar comida para a familia. Disse : fico-lhe eternamente grato!
Eu queria lá saber de gratidão, eu queria era sair dali o mais rapidamente possivel.
Saí e fui em direcção ao local para o qual tinha vindo. Odeio aqueles sitios...
Andava chateado com aquilo e com a vida, sem esperança nenhuma, já andava cansado de andar abaixo e acima...era um desgaste tremendo.
Era 3 da tarde quando saí, não me apeteceu almoçar, eu queria sair era o mais rapidamente daquela cidade. Quando cheguei junto ao meu automóvel emprestado pela Avis reparei que o "pedinte" ainda lá estava. Ele olhou para mim, sorridente e disse:
- Estive aqui o tempo todo, não deixei que tocassem no seu carro.
Eu achei tão estranho aquilo, acho que nem agradeci ao homem pela façanha, estava tão chateado...quem é que com juízo perfeito ficaria ali aquele tempo todo, ainda por cima cheio de humidade e ao frio a guardar um automóvel, que nem era meu. Por um punhado de moedas...
Durante a viagem para cima ocorreu-me uma série de coisas, laivos de pensamentos, retalhos da minha vida, cenas...Pensei ainda no homem, do "guardador" do meu automóvel alugado e nos seus olhos escuros como a escuridão da noite, daquele fétido cheiro corporal.
Novembro,  recebi o resultado e a conclusão final daquela "visita" a Lisboa, foi um bom momento...depois de ler o que dizia aquela carta.
Foi um alívio pensar que já não era preciso voltar a Lisboa...nunca mais!

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