terça-feira, 5 de setembro de 2017

a água, o ouro, o velho e o marisco

Por um desses caminhos da minha aventura, a sós comigo mesmo, dei por mim numa fonte, daquelas das antigas em que o fio de água cristalina assenta numa espécie de bajanco e depois é "canalizada" por uma telha meia cana. 
Eu gosto de beber água nessas fontes, a água não é controlada biologicamente por uma câmara municipal qualquer, nem menos é vigiada ou roubada por uma dessas empresas estrangeiras que a pouco e pouco tiram esse bem precioso do nosso controlo. Há de chegar, infelizmente, esse dia...provavelmente eu já não estou cá para fazer sentir a minha revolta por um bem escasso.
Parei, fiz uma espécie de concha com as minhas mãos e levei o precioso liquido cristalino aos meus lábios sedentos de sede. E que bem que me soube!!!
Aqui sabe sempre melhor, agora que faço este gesto, como outros tantos, como outrora, na minha infância, nas fontes da minha aldeia. Agora estão secas, e o motivo está à vista...
No cair do pano de mais um dia, passei junto ao Ocreza , antigamente um rio farto em ouro, segundo os locais, e ainda há garimpeiros, diz-me um velho agarrado a uma bengala de pau de eucalipto. Perguntei quem eram os ditos "garimpeiros" e ao que a resposta saiu a sorrir - São os camones ! mas já não há lá nada!
Se há ou não o vil metal doirado no leito do rio nós nunca saberemos, mas faz as delicias daqueles que na sorte poderão encontrar a pepita das suas vidas. Como eu gostava (também) de andar ali a chapinhar e de prato de alumínio na mão , também eu, tentar em vão a minha sorte. Não pelo ouro, ou outro prémio qualquer, mas estar ali, e olhar em redor, os montes os vales, e os grifos...isto sim, aqui é bonito.
O meu pé é muito leve no acelerador, gosto de observar, gosto de parar e sair...se ao menos eu fosse um bom fotografo, penso eu muitas vezes, que lindos quadros eu tiraria por todos os locais deste mundo por onde tenho passado.
Continuo a minha viagem, acompanhado por uma estação de rádio local, musica que não é do meu gosto, mas faço um esforço.
Tudo arde, e eu vou aproveitando provavelmente o que resta de uma paisagem verde.
 Dou meia volta, um GNR diz-me que eu tenho que seguir pela N2 e depois sair no Carvalhal ( Abrantes). Conheço isto como as palmas das minhas mãos. Caramba, como o tempo passou, e já passaram tantos anos assim?
Parei de novo, olhei para o portão de uma velha Quinta, onde passei ali uma noite, muito bem acompanhado, lembro perfeitamente qual foi o dia, e altura do ano. Há coisas que nunca se esquecem. Continuei, era tarde, olhei para o relógio e sem duvida alguma que eram horas de cear, e assim fiz.
Fui matar saudades a um restaurante que eu gosto, ali no centro, uns mariscos para entrada, e um robalo na brasa acompanhado por legumes. Que todos estivessem assim como eu, pensei eu naquela altura.
O empregado olhava para mim, e lá ganhou coragem para me dizer : já não o via por aqui faz já algum tempo. E eu devolvi-lhe o meu melhor sorriso e disse que estava no estrangeiro a trabalhar e era de todo impossível visitar com regularidade como dantes.
Pagou-me o café e um digestivo, agradeci, paguei e fui embora.
Pensei... Por aqui estamos confessados, agora só para o ano que vem, quem sabe.
Ainda não descobri Portugal como eu quero e da maneira como eu quero, tenho mais ou menos um "projeto" idealizado, e penso que o vou fazer para o ano que vem, para os finais de Setembro.
O meu contrato vai acabar e vou ter mais tempo para mim. Vou alugar uma Iveco auto caravana e quero começar em Bragança até Vila Real Stº António . É um sonho de há muito tempo, não conheço nada do interior...vai ser muito bonito. São 8 dias e 8 cidades, a saber : Vinhais, Vila Nova de Foz Coa, Fundão, Alter do Chão, Mourão, Barrancos, Mértola e por fim Vila Real Stº António.
As minhas viagens tem sido pequenas, intermitentes, cheias de tudo e de nada...o tempo incomoda-me, gosto de tirar o relógio e saber que não tenho nada para amanhã.
Deito-me sossegado, não há vigílias noturnas, só eu e Deus, o meu fiel companheiro por essa estrada fora.
Cheguei a casa, tirei a minha roupa e tomei um ligeiro duche, que calor  faz este ano em Portugal...Jazus!!!.
Amanhã é o meu ultimo dia de férias, Istambul acena-me com as suas mãos, e aí eu sei que é a minha hora de partir.
Adorei a água, o ouro que não existe, o velho  espertalhão, e um delicioso marisco.
Há sonhos que podem ser realizados...

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